Um projeto que tinha como principal objetivo se tornar um canal de escoamento de produtos agrícolas do interior do Estado de São Paulo.
E uma ideia de construção de uma estrada de ferro que sinalizava a já existente pujância econômica e boa localização de Piracicaba.
Foi com estas concepções que, em 15 de maio de 1875, inaugurou-se a ponte Irmãos Rebouças, conhecida mais tarde como a ponte do Mirante.
Completando hoje 140 anos de sua construção, ela foi a primeira ponte de concreto armado do Brasil.
Segundo o historiador e pesquisador Noedi Monteiro, houve uma disputa para a implantação de uma ferrovia que ligaria Santos ao interior do Estado.
Estradas de ferro Ituana e Sorocaba (mais tarde, fundidas como Companhia União Sorocabana), Mogiana e Companhia Paulista concorreram para a marcação de seus territórios com contratos lavrados à base de muita influência e capital, afirmou Monteiro.
“Implantar seus trilhos e trens ligando o porto de Santos ao interior paulista era o que aspiravam os empreendedores das ferrovias paulistas, para o escoamento da produção açucareira, cafeeira e de mercadorias e do transporte de passageiros”, informou.
“Para vencer e contornar os intransponíveis relevos, barreiras geográficas e driblar a natureza, as empresas contaram com a tecnologia e a experiência dos especialistas, da época, como os irmãos Rebouças.”
Segundo Monteiro, por volta de 1870, Piracicaba era um centro açucareiro com cerca de 8.000 habitantes e 5.400 escravos — a terceira maior em número de escravos na província de São Paulo.
O projeto original da ponte foi do engenheiro Antônio Pereira Rebouças Filho (1839- 1874), que era negro.
Com o irmão André Pinto Rebouças (1838-1898), ele se aperfeiçoou em engenharia civil na Europa, com a técnica de utilização de ar comprimido.
“A obra é de extrema importância e teve muita visibilidade porque foi construída por um engenheiro negro. Além de ser uma obra muito avançada para a época, ele venceu barreiras étnico-raciais”, disse Monteiro.
Segundo o historiador, devido ao avanço urbanístico de Piracicaba, a cidade necessitava de uma nova travessia sobre o rio Piracicaba — a travessia existente era de madeira “e não resistia à fúria das águas sendo constantemente arrastada”, disse Monteiro.
Em 1873, a Companhia Paulista contrata então Antônio Pereira Rebouças Filho para a direção técnica do ramal.
“Rebouças se lança à locação, demarcação e sondagem ribeirinha para a construção da ponte.
Infelizmente, ele contrai malária no andamento dos trabalhos e morre em 24 de março de 1874, aos 34 anos”, informou.
O trabalho de construção teve continuidade com a ponte de chapa naval vindo da Inglaterra e de concreto armado — o primeiro trabalho desta natureza no Brasil, segundo Monteiro.
Em 15 de maio de 1875, com 183 metros de comprimento, a ponte foi aberta mas foi somente usada dois anos depois.
“Apesar da construção da ponte, a Companhia Paulista desistiu do ramal até Limeira. A ponte nunca foi usada pela Paulista. A Ituana, mais esperta, inaugurava o seu ramal a Piracicaba em 20 de fevereiro de 1877 com a chegada do trem à estação no Bairro Alto (atual escola Dr. Alfredo Cardoso)”, informou.
O historiador lembra que os trens circularam pela ponte do Mirante até 1971. Foi uma ferrovia até 1987.
“O prefeito à época, Adilson Maluf, aproveitou a plataforma, ampliou e fez uma passagem de carros. Ela deixa de ser trilho e passa a ser asfalto.”
Uma das principais características desta obra foi a resistência.
“Ela foi construída para aguentar o peso de oito locomotivas alemãs. É muito resistente. Passou por, pelo menos, três grandes reformas desde sua construção. Mas a base é a mesma até hoje.”
Fonte:
Texto: Jornal de Piracicaba / Gabriela Garcia / sexta-feira, 15 de maio de 2015 8h33
Fotos: Acervo do IHGP